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O Desafio da Sobrecarga nos Serviços de Saúde Portugueses

O Desafio da Sobrecarga nos Serviços de Saúde Portugueses
O Desafio da Sobrecarga nos Serviços de Saúde Portugueses
15 de outubro de 2024
Sobre o autor
Pedro Stark
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As urgências em Portugal têm sofrido uma pressão maior nos últimos tempos e com isso colocando em risco a qualidade dos cuidados de saúde primários prestados aos cidadãos. Este cenário alarmante é caracterizado por uma confluência de fatores que exigem uma análise detalhada e uma resposta urgente por parte das autoridades de saúde e dos decisores políticos em relação ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a política de saúde.

O elevado número de atendimentos nas urgências hospitalares é um dos sintomas mais visíveis desta crise, sendo que milhares de portugueses recorrem à urgência hospitalar em procura de acesso a cuidados de saúde por situações que poderiam ser resolvidas noutros níveis de cuidados ou provedores dentro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Numa sondagem realizada anteriormente pela CW1 mostra que apenas 8% dos portugueses optaria por uma vídeo-consulta revelando desconfiança no actual sistema de saúde pública e recursos disponíveis que contém recursos humanos para dar capacidade de resposta a alguns dos casos que procuram acesso a cuidados de saúde pública. Esta afluência excessiva resulta em longas horas de espera pois estes casos são considerados casos verdes ou azuis pela escala de Manchester, e ao mesmo tempo provoca uma sobrecarga dos profissionais de saúde e, consequentemente, numa diminuição da qualidade do atendimento prestado aos casos verdadeiramente urgentes.

A escassez de recursos, tanto humanos como materiais, agrava ainda mais esta situação. A falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, em conjunto com a infraestruturas por vezes desadequada, cria um ambiente de trabalho com bastantes desafios e potencialmente perigoso. Esta conjuntura não só compromete a eficácia dos cuidados prestados, como também contribui para o desgaste e desmotivação dos profissionais de saúde, que já estão desmotivados devido às renumerações do sector público ser bastante além das renumerações do sector privado ou da média europeia.

6 Milhões de Atendimentos Anuais em Portugal, mais de metade Potencialmente Evitáveis.

1.6 milhões de cidadãos da população portuguesa não tem um médico de família atribuído. Como não existe a rotina de consultar primeiramente as Unidades de saúde familiar, o utente tem tendência a dirigir-se de imediato ao às urgências do hospital em procura de cuidados de saúde. A realidade dos serviços de urgência em Portugal apresenta números alarmantes que evidenciam a sobrecarga do sistema e dos recursos humanos dentro das unidades hospitalares de saúde pública. Anualmente, o país regista mais de 6 milhões de episódios de urgência, o que se traduz numa média impressionante de 268 entradas por hora nos serviços de emergência.

O aspecto mais preocupante destes dados estatísticos reference à população portuguesa e saúde pública reside no facto de que aproximadamente 61,2% destes atendimentos são considerados casos azuis ou verdes pela classificação de Manchester e não requerem cuidados urgentes. Isto significa que cerca de 2 milhões e 328 mil visitas às urgências poderiam potencialmente ser evitadas ou redirecionadas para outros níveis de cuidados de saúde. 

Os dados mais recentes (outubro de 2024) mostram que:

 

•  61,2% dos atendimentos nas urgências são considerados não urgentes 

•  O tempo médio de espera para casos não urgentes ultrapassou as 6 horas 

•  Apenas 15% dos casos atendidos nas urgências resultam em internamento  

 

Especialistas na CW1 Portugal apontam que esta situação levanta questões importantes sobre a literacia em saúde da população, a acessibilidade aos cuidados primários e a eficácia dos sistemas de triagem bem como os métodos para assegurar uma gestão eficiente da unidade hospitalar. O problema poderá agravar-se, pois em caso de uma nova pandemia, a situação e as rotinas implementadas não são suficientes para conter a propagação de infecção e disseminação de doenças virológicas. O Ministério da Saúde, Entidade Reguladora da Saúde e Direcção geral de Saúde, têm em colaboração com a Ordem dos médicos tentado mudar esta realidade, e Portugal está nos 8 países que mais reformularam a sua política de saúde e o seu sistema interno de Saúde nos últimos 5 anos dentro da comunidade Europeia, mas devido aos limitados recursos existentes e grande despesa pública com hospitais, não tem sido tão evidente como outros países na Europa. A escassez de profissionais também contribui para as crises na saúde.

Esperas de 13 Horas, Falta de Especialistas e Hospitais Sobrecarregados

Casos extremos duraram 13 horas em espera na sala de atendimento. A sobrecarga das urgências é um problema que tem de ser melhorado pois coloca em risco a saúde dos pacientes em Portugal continental e causa uma situação de vulnerabilidade para pacientes com condições que requerem intervenção imediata. A escassez de médicos agrava ainda mais significativamente o problema. O sistema português não está formatado para funcionar com equipas pequenas como os modelos nórdicos ou alemão. Estes iriam requer novos treinos dos profissionais para que os serviços de urgência pudessem funcionar com equipas de 3 médicos e 5 enfermeiros e isso significaria um investimento brutal dos hospitais bem como ultimamente pelo Ministério da saúde. Porém as equipas de urgência em Portugal, têm vindo a reduzir em tamanho e sobrecarregadas com excesso de trabalho, obrigando os hospitais a recorrerem frequentemente a profissionais sem a especialização adequada para preencher as lacunas nas urgências ou médicos subcontratados a elevados prémios por hora.

Os dados mais recentes revelam a gravidade da situação:

•  Tempos de espera médios nas urgências ultrapassam 6 horas em várias unidades públicas hospitalares. 

•  Cerca de 30% dos médicos nas escalas de urgência não possuem especialização em medicina de emergência ou são médicos contractados. 

•  Mais de 50% dos hospitais operam consistentemente com taxas de ocupação acima de 80% 

 

A prática de cirurgias contínuas das unidades hospitalares com taxas de ocupação superiores a 80% é particularmente alarmante. Esta taxa alarmante causa diversos obstáculos ao normal funcionamento de uma unidade hospitalar entre eles 1) Disponibilidade de camas para pacientes ambulantes que requerem internamento, 2) disponibilidade de médicos para reforçar as urgências e 3) disponibilidade de recursos para emergências ou surtos imprevistos. Além disso, aumenta o risco de infeções hospitalares e compromete a qualidade geral dos cuidados prestados. Mais ainda, não existe um plano definido de maximização das cirurgias, existindo diferentes casos de longas listas de espera para departamentos específicos. 

 

Esta conjuntura exige uma resposta abrangente e coordenada. É necessário não apenas aumentar o número de profissionais especializados e melhorar as condições de trabalho nas urgências, mas também implementar estratégias para reduzir a procura desnecessária por estes serviços. Porém o uso de médicos subcontractados, pois o uso não controlado poderá aumentar significativamente o passivo de pequenos hospitais rurais tal como aconteceu no Reino Unido onde alguns dos Trusts do NHS sofrem agora problemas de liquidez. 

 

Planos de contingência: Entre o Reforço de Recursos e Possíveis Suspensões de Cirurgias

 

Para abordar essa pressão, é essencial implementar soluções focadas na eficiência operacional e na integração dos cuidados. Fortalecimento da Coordenação entre Cuidados Primários e Urgentes

 

Criação de Clínicas de Cuidados Urgentes e educação do paciente: Estudos indicam que clínicas externas podem desempenhar um papel fundamental e podem desviar até 40% das visitas às urgências, aliviando a carga sobre os hospitais, e tal como tem sido feito em Portugal nos últimos anos pacientes passam a ser redireccionados das ULS para as USFs. Mas é preciso mais medidas a longo prazo. A adaptação do modelo britânico, que utiliza centros de atendimento rápido para prestação de cuidados de condições não críticas e a reeducação do paciente com mais Informação sobre saúde e planeamento em saúde são necessárias para reforçar a mudança na demanda por serviços. O modelo Sueco, onde o paciente tem de ligar primeiro para o número de apoio para saber em que hospital ou clinica irá receber cuidados é outra das possíveis soluções para reforçar a educação do paciente e alinhar outros processos tais como diminuir tempos de registo de pacientes ou até tele triagem.

Investimento em Formação e Contratação: Aumentar a força de trabalho nas urgências pode reduzir significativamente os tempos de espera. Dados sugerem que um aumento de 10% no número de profissionais pode melhorar a eficiência do sistema e a satisfação dos pacientes. Mas mais é necessário. Portugal apresenta em media -50% de investimento na saúde per capita do que a união europeia e os salários dos médicos públicos em Portugal são 80% inferiores aos médicos alemães e 60% inferiores aos médicos Suecos.

Digitalização e novas tecnologias de saúde: A implementação de soluções digitais, como telemedicina e ferramentas de gestão de fluxo, pode transformar a gestão das urgências. Sistemas baseados em inteligência artificial podem prever picos de demanda e otimizar a alocação de recursos bem como gerir as camas disponíveis por cada hospital, registo automático de pacientes e redireccionar os pacientes para os hospitais ou centros de saúde adequados.

•  Conversão dos centros de saúde para integrarem internamentos para melhorar acesso aos cuidados primários de saúde. Centros de saúde podem incluir algumas camas para acomodar pacientes ambulantes diários que precisem de internamento para casos levianos tais como desidratação ou observação de evolução de doença. 
 

  • Existem diversas medidas para acomodar a mudança, mas a CW1 compilou todas estas mudanças e medidas concretas num dos seus relatórios prémio que poderá ser acedido aqui. 

 

Referências 

Carlos Cortes. (n.d.). Desafios e oportunidades da saúde em Portugal. Jornal de Negócios.

•  Xavier Barreto. (n.d.). Hospitais aumentam camas e reforçam equipas para responder à pressão nas urgências. Público. 

 

•  CNN Portugal. (2023). Hospitais sob pressão: 268 entradas na urgência por hora. CNN Portugal. 

 

•  Ana Paula Martins. (2023). “Pressão louca” nas urgências tira a saúde a todos. Expresso. 

 

•  Almeida, J. (2023). A pressão nos serviços de urgência: desafios e soluções. Jornal da Saúde. 

 

•  Martins, R., & Silva, A. (2023). Modelos de triagem e sua eficácia nos serviços de saúde. Revista Portuguesa de Saúde Pública. 

 

•  Organização Mundial de Saúde. (2022). Relatório sobre cuidados urgentes na Europa. WHO Publications. 

Sobre o autor
Pedro Stark
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Group Managing Partner at CW1

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